segunda-feira, 23 de maio de 2011

Apologias e Analogias


Prometi para mim mesmo que, neste cantinho, neste espaço, ficarei longe, muito longe, das temáticas que envolvem o direito, minha formação acadêmica. O direto só não consegue ser mais chato porque o próprio advogado, muitas vezes, chama essa responsabilidade para si.

Brincadeiras à parte, este espaço eu reservo para fugir do trabalho e das temáticas que o envolvem. O uso como um ombro amigo, uma tribuna de insanidades ou mesmo como um divã. Hoje, quero desabafar. E tentarei manter distância do direito e honrar minha palavra.

De direito, compartilharia apenas o fato de que existem muitas leis inúteis e isso não é nenhuma novidade. Estes termos mais gerais, que pertencem ao senso comum, são as únicas exceções que utilizarei da seara jurídica.

A quem pertence o conhecimento? A quem pertence a cultura? Afinal, o que é cultura? (cortei tão abruptamente o tema, mas foi necessário, me desculpem). Uma definição bem genérica afirma que cultura é o complexo de informações que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade.

E a quem isso pertence? Uma obra, uma teoria, um filme, um livro, enfim, qualquer elemento cultural, a quem pertence? Ao autor? A quem compra? Ou à humanidade?

Estamos diante de um grande debate, de um grande dilema. Talvez alguns mais perspicazes tenham percebido o rumo que este texto irá tomar. Que este autor irá tomar. Tomar um partido.

Pirataria é crime. E, de fato, concordo que seja uma atividade ilícita “lucrar” com a obra alheia. Mas acho que pirataria merece um estudo mais amplo, mais específico. Afinal, quando se fala em piratear, parece que as indústrias de CD’s falsos e internautas que fazem downloads são todos "farinha do mesmo saco."

É como se os grandes traficantes e os usuários de drogas fossem criminosos da mesma natureza. Opa, “pera lá”, que boa analogia... afinal, já até “despenalizaram” os usuários de drogas. Em outros termos, nem são mais “criminosos” aqueles que apenas usam drogas. Agora, quem “consome” cultura, é criminoso?

Conhecimento, saber, cultura... eis aí uma busca incessante da humanidade. É um direito inato do homem. Tão importante quanto a liberdade, quanto viver, é a busca pelo conhecimento. Cursos, cinema, colégios, teatro, faculdade, literatura, música... é mais que natural que o homem busque cultura, conhecimento e lazer.

Eu posso consumir maconha, cocaína, eu posso fumar crack ou óxi, mas eu não posso consumir um filme, ler um livro, assistir um seriado ou escutar algumas músicas?

Ora, não estou “lucrando” com nada disso. Não estou explorando comercialmente nenhum destes conteúdos. Estou, no máximo, me engrandecendo, enquanto ser humano, adquirindo conhecimento, tendo experiências emocionais, afetivas, adquirindo “repertório”, conhecendo outras culturas, etc. E por isso, sou criminoso?

Os autores merecem e dever ser ressarcidos por suas obras. Mas existem diversas formas de se incentivar o ganho autoral. Tv’s e rádios são gratuitos, de livre acesso. Ninguém paga para ver uma tv aberta, e ela tem a sua fonte de renda. Grandes portais da internet também são gratuitos e exploram seus ganhos com publicidade.

Pirataria musical não diminuiu o interesse do público pelos shows ao vivo de seus artistas favoritos. Aliás, muitos se consagraram graças a troca gratuita de suas músicas na internet.

Ou seja, existem alternativas. Até reverem essa política de pirataria, considerem-me um fora-da-lei.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Parem o ano que eu quero descer


“Esse ano está passando rápido”. Eis aí uma frase bem comum, que quase todos nós compartilhamos, em algum momento da vida. Principalmente quando vemos que o tempo não vem sendo assim tão... camarada. 

E mais. Posso dizer ainda que a cada ano que passa, essa sensação fica mais evidente. O ano retrasado passou rápido. O passado, voou. Esse, nem vi passar. Nem esperem pelo ano que vem. Quando menos perceberem, já estarão na década seguinte. 

Mas por quê? O que vem acontecendo? Eu parei para pensar e, para o azar de vocês, cheguei a uma conclusão... (um minuto de silêncio para àqueles que, em sã consciência, estão fechando o navegador se retirando do blog...): Proporcionalidade. 

Tá, parece um palavrão. Aliás, é um “palavrão” – são 17 (!) letras. Mas tem muito a ver com relatividade. Nada de Einsten, não se preocupem. Apenas um pouquinho de lógica matemática implícita no contexto. 

Dá para traduzir? Acho que dá. Vejamos: 

Quando temos 7, 8, 10 anos de idade, qualquer um ano é uma eternidade. Também pudera. Quando se tem 10, um ano equivale à 10% de todo seu tempo de vida. Aqui que entra a proporcionalidade. Quando se tem 7, ele equivale à quase 15%. Quando se tem trinta anos, por outro lado, um aninho equivale apenas à 3,5%, aproximadamente. E quando se tem 70, um ano não chega a representar 1,5% do tempo de vida que já se viveu. 

Matemática é um saco, eu concordo. Mas não podia deixar de mencionar tais números, no parágrafo passado. A verdade é que, com o passar dos anos, o próprio ano fica proporcionalmente menor para as pessoas. E menos importante. 

Vejam o início de um namoro, por exemplo. No começo, comemoram-se semanas, meses. Um ano, dois. Casamento. Depois de um tempo, dez anos de casado. Bodas de prata. Bodas de ouro. Os “marcos” passam a ser comemorados de 25 em 25 anos. 

O que é um ano a mais, um ano a menos, para os “super centenários?” E para os tão badalados “vampiros”, que cruzaram a eternidade, diretamente dos contos medievais às três dimensões do cinema?

É, o tempo e suas fascinantes magias. Guardo uma eternidade dentro de cada lembrança. E uma lembrança dentro de cada lágrima, em cada sorriso. E nem todos os anos que me restam serão suficientes para expô-las.


PS.: Se você contou a quantidade de letras que a palavra "proporcionalidade" tem, bem vindo ao clube.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Do "eu" ao mundo

Me peguei pensando: porque é que escrevo tanto sobre o “eu” de cada um de nós? Pois é, sempre que penso demais, acabo aqui, nesta pequena ilhota, cantinho do pleonasmo, refúgio da antítese, meu blog. E de cacofonias, como o título deste texto.

Ao escrever sobre o “eu”, sobre tristezas e alegrias, sobre desejos e responsabilidades, me privo de abrir o leque e abordar outros temas mundanos. Fico sempre nesse laço, nesse nó, nesses “nós” que amarram tantos “eus”. Existencialismo, felicidade, o hábito de escrever. Sonhos, medo de acordar. Reflexões pessoais sobre relações diretas, sobre a vida, sobre a morte.

Por que nunca falo do todo? Por que nunca falo de política, de economia, porque não falo de direito, de história, das notícias da atualidade? Talvez porque não me sinta assim, tão globalizado. “Cidadão do mundo” me assusta um pouco. Me faz ainda mais pequeno. Ou então, justificaria, por falta de critério. Ahm?

“O homem é a medida de todas as coisas”. Essa frase, vinda de um “sofista”, não deveria inspirar tanta confiança. Mas serve de desculpa, se é que me entendem. Se não deu para entender, não tem problema. Nem eu entendi ainda.

Mas creio que seria algo mais ou menos assim: vivo em um verdadeiro pêndulo existencial. “Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto”. De fato, como já disse Renato Russo, eu também não sei quem sou. Meus textos, aí, confirmam – careço de rótulos.

E, se não sei nem ao certo quem sou, como “me usarei” de medida para o que se passa ao meu redor?

Todos os conceitos que fazemos do “macro”, dos temas globalizados ou regionalizados partem de pressupostos particulares. Partem de um micro. De algum “eu” perdido neste planeta. E eu, autor e narrador desta divagação, não possuo critérios. Não tem conceitos de si. Não sabe quem é ou o que é.

Por isso evito tais temas. Restrinjo-me a mim, à você e aos “eus” que também se sentem perdidos. Como escrever sobre o mundo se não sei ao certo o que se passa dentro de mim? O mundo acontece, mas lá fora. Eu, aqui dentro. E ainda não me senti adulto o suficiente para abrir essa porta e explorar o horizonte.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

De volta ao lar


Voltei a sentir, com certa nostalgia, uma inquietação, um distúrbio no estado de espírito, que me faz sentir culpado pela não atenção ao hábito (de outrora) de escrever meus malfadados textos.

Há dias que essa sensação pulsa em meu âmago. Nos primeiros dias, pensei, “deve passar”. Mas esse passageiro não embarcou nem se deixou ser despachado. Permanece ali, inquieto, aguardando ver seu desejo atendido. “Faz tempo que eu não escrevo nada” voltei a cogitar. Surpreendi-me, então, com uma faísca de certeza. Era ele, ali, acenando positivamente.

Hoje, com certa timidez, desacostumado, me flagro aqui, discorrendo estas notas existencialistas, sobre abstrações que em nada acrescentam ao nosso dia-a-dia. Confesso, um pouco contrariado, que faço desse texto um desabafo, ou melhor, uma vã tentativa de me enganar e satisfazer esse ego, às vezes egoísta, às vezes altruísta. Ou em um ponto qualquer entre esses dois valores antagônicos e tão satisfatórios. Pelo menos creio eu que nos faz realmente bem sermos ora egoístas, ora altruístas.

Mas não é sobre isso que eu quero discorrer. Na verdade, não quero falar sobre nada, só quero desabafar. O problema é que, nem ao certo sei sobre o que eu quero desabafar. Na verdade, eu precisava escrever algo. Minhas manias. Escrever para alguém. Ou então, para ninguém - minha especialidade.

E o que escrever? Que ao menos, eu tentei?

Acho que hoje, por mais que me sinta intuído à escrever, não me sinto inspirado. Ou, talvez, em mais uma megalomaníaca forma de escusa, esteja inspirado demais, a ponto que tanta informação, tanta sede, tanta vontade, faça com que as idéias acabem por se misturar, se confundir e se encerrar no caos que é a minha mente.

A realidade é que eu não tenho nenhum dom, nenhum talento, mas gosto de me enganar com a idéia de um potencial latente. Daqueles que, quando precisam, na hora do aperto, fazem tudo do bom e do melhor. Enquanto isso, fico aqui, deitado, vendo o mundo acontecer, observando passivamente a história. “Quando chegar a minha vez, eu dou conta” - penso, ou melhor, me engano.